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Aterramento e Equipotencialização em Sistemas Fotovoltaicos: O Guia para a NBR 5410

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Publicado em 03 de dezembro de 2025 Categoria: Estudos Técnicos
Aterramento Equipotencialização

1. O Conceito Fundamental: Terra, Neutro e a "Sujeira" Elétrica

Primeiro, uma correção técnica importante: o aterramento não deve ser confundido com o neutro, e o raio não deve "viajar" pelo neutro dentro da casa.

  • O Raio (Descarga Atmosférica): Se um raio cai na rede ou próximo a ela, a energia excessiva deve ser desviada para a terra o mais rápido possível através do SPDA (externo) ou dos DPS (internos), utilizando o cabo de proteção (Terra - PE).

  • A Função do Terra (PE): É criar um caminho de baixíssima resistência para a terra. Se houver uma fuga de corrente (um fio desencapado tocando a carcaça do inversor), a corrente flui para a terra e o disjuntor dispara imediatamente, salvando a vida de quem tocar no equipamento.

2. Os Esquemas de Aterramento (NBR 5410) Aplicados à Solar

A norma define três esquemas. O integrador precisa saber qual o inversor aceita (leia sempre o manual!).

  • Esquema TN (O Mais Comum e Seguro para Inversores): Aqui, o Neutro da concessionária e o Terra do consumidor estão conectados em um único ponto (geralmente no padrão de entrada), chamado de BEP (Barramento de Equipotencialização Principal).

    • TN-S (Separado): O neutro e o terra vêm juntos do padrão, mas separam-se dentro da instalação. É o melhor cenário para a maioria dos inversores transformerless, pois garante uma referência de zero estável.

    • TN-C (Combinado): O neutro e o terra são o mesmo fio (PEN). Evite usar em circuitos solares, pois se esse fio romper, as carcaças dos equipamentos ficam energizadas.

  • Esquema TT (O "Independente"): O neutro é aterrado na concessionária, e o cliente tem uma haste de terra própria, sem conexão com o neutro.

    • Atenção no Solar: Muitos inversores modernos monitoram a tensão entre Neutro e Terra. No esquema TT, essa tensão pode flutuar, causando erros de operação. Se usar TT, é obrigatório o uso de dispositivos DR (Diferencial Residual) para proteção humana, pois o disjuntor comum pode não atuar em caso de fuga para a terra devido à alta resistência do solo.

  • Esquema IT (Isolado): O neutro não é aterrado ou é aterrado via alta impedância.

    • Uso: Raro em residências. Usado em hospitais e grandes indústrias que não podem parar. Requer inversores específicos e monitoramento de isolamento constante.

3. Aterramento dos Módulos e Estrutura: Onde o Integrador Erra

Não basta aterrar o inversor. A estrutura metálica no telhado e as molduras dos painéis precisam estar equipotencializadas.

  • O Erro Comum: Achar que o contato do clipe (grampo) de fixação com o alumínio do painel já faz o aterramento. Isso é falso. O alumínio é anodizado (tem uma camada isolante).

  • A Solução Correta:

    1. Clipes de Aterramento (WEEB): São pequenas chapinhas dentadas de inox colocadas entre o painel e a estrutura. Os dentes furam a anodização do alumínio, garantindo o contato elétrico.

    2. Cabo de Cobre Nu ou Estanhado: Deve percorrer todos os trilhos da estrutura e ser conectado ao aterramento principal da casa.

Por que isso é vital?

  1. Segurança: Se um cabo DC morder e tocar na estrutura, o telhado inteiro fica energizado se não houver aterramento.

  2. Efeito PID (Degradação Induzida por Potencial): Em alguns painéis, a falta de aterramento da moldura causa uma migração de íons que degrada a célula solar, reduzindo a potência do sistema em poucos anos.

4. Aterramento Funcional vs. Proteção

No seu texto original, você mencionou "Subtensões". Vamos ajustar o foco para o que o aterramento realmente combate no contexto solar:

  • Referência de Tensão: O inversor precisa "ver" o zero volts da terra para medir a tensão da rede (127V/220V). Se o aterramento for ruim (flutuante), o inversor pode ler tensões erradas e se desligar por "Sobretensão" ou "Subtensão" erroneamente.

  • Atuação do DPS: O Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) na String Box funciona como uma "válvula de escape". Quando vem um surto (raio), ele abre a porta para a terra. Se não houver aterramento (ou se o fio for muito fino/longo), o DPS não consegue "despejar" a energia, e o surto queima o inversor.

5. Equipotencialização: A Regra de Ouro

O conceito de "Aterramento de Ponto Único" que você citou é tecnicamente chamado de Equipotencialização.

Regra para o Integrador: Todas as terras devem se encontrar. Você não deve ter uma haste de terra para o inversor e outra haste separada para a casa. Se um raio cair perto de uma haste, cria-se uma diferença de potencial (DDP) entre elas, e a corrente vai "viajar" pelos seus equipamentos (pelo cabo de comunicação ou pelo próprio inversor) para tentar equilibrar, queimando tudo no caminho.

Tudo deve ser conectado ao BEP (Barramento de Equipotencialização Principal). O terra dos painéis, o terra do inversor e o terra da casa devem ser um só.

Conclusão

O aterramento não é um item opcional ou secundário; é a base sobre a qual a segurança e a eficiência do sistema fotovoltaico são construídas. Um sistema bem aterrado (preferencialmente em esquema TN-S ou TT com DR, devidamente equipotencializado) garante que os DPS funcionem, que o inversor não desligue aleatoriamente e, o mais importante, que o seu cliente esteja protegido contra choques fatais.

Para o integrador, investir em aterramento correto (clips WEEB, cabos verdes/amarelos de bitola correta e conectores adequados) é o seguro mais barato que existe contra dores de cabeça no pós-venda.

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