COMO O GRANIZO PODE AFETAR SEU PROJETO
O granizo, ao cair em alta velocidade, exerce uma força de impacto pontual e intensa sobre a superfície do painel. O dano que pode ser causado se divide em duas categorias:
O Dano Visível: Em casos de tempestades extremas, com pedras de gelo de grande diâmetro, pode ocorrer a quebra ou estilhaçamento do vidro frontal. Este é o dano mais óbvio, porém o mais raro em painéis certificados.
O Dano Invisível (O Perigo Real): Este é o maior risco. Mesmo que o vidro não se quebre, a força do impacto pode gerar microfissuras nas células de silício, que são extremamente finas e frágeis. Essas rachaduras, invisíveis a olho nu, iniciam uma reação em cadeia:
Interrupção do Fluxo: A fissura cria um ponto de alta resistência elétrica, dificultando a passagem dos elétrons e "desconectando" partes da célula.
Criação de Hot Spots: A área ao redor da fissura para de gerar energia e começa a dissipar a corrente das células vizinhas na forma de calor. Esses "pontos quentes" (hot spots) superaquecem, causando a degradação acelerada do encapsulante (EVA) e do backsheet, o que leva a uma perda de eficiência permanente e pode, em casos extremos, comprometer a segurança do módulo.
A ANATOMIA DE UM PAINEL RESISTENTE (AS "PROTEÇÕES")
A resistência do painel não vem de um único item, mas sim de um "sanduíche" de engenharia, onde cada camada tem uma função. O que você chamou de "empacotamento da célula" é, de fato, a parte mais importante.
O Escudo (Vidro Temperado): É a primeira e principal linha de defesa. Não é um vidro comum, mas sim um vidro temperado de alta transmitância (geralmente com 3.2mm de espessura) que passa por um tratamento térmico para aumentar sua resistência mecânica em até cinco vezes.
O Amortecedor (Encapsulante - EVA): São duas películas (uma acima e outra abaixo das células) de Acetato-Vinilo de Etileno. O EVA não apenas protege as células da umidade, mas serve como um "amortecedor" que absorve a energia do impacto e a distribui, protegendo as células de silício logo abaixo.
A Armadura (Moldura de Alumínio Anodizado): A moldura dá rigidez estrutural a todo o conjunto. Ela é crucial para que o painel não flexione excessivamente sob impacto, o que quebraria as células.
A Barreira (Backsheet): A camada traseira (geralmente de polímeros) tem como função principal o isolamento elétrico e a proteção contra umidade, garantindo a segurança e a longevidade do sistema.
COMO A RESISTÊNCIA É COMPROVADA? A NORMA IEC 61215
Aqui está a informação mais importante para um integrador: como saber se o painel realmente resiste?
A resposta está na certificação IEC 61215. Esta é a norma internacional que qualifica o projeto e aprova o tipo de um módulo fotovoltaico. No Brasil, para um painel receber o selo do INMETRO, ele deve ser aprovado em uma bateria de testes rigorosos, incluindo o teste de impacto de granizo.
Como funciona o teste de granizo (IEC 61215):
Não é um teste subjetivo. Ele é padronizado e executado com um "canhão de granizo" que dispara esferas de gelo com massa e diâmetro específicos.
Parâmetro Padrão: O teste mais comum utiliza esferas de gelo de 25mm de diâmetro (o tamanho de uma moeda de R$ 1,00).
Velocidade: Elas são lançadas a 23 m/s (ou 82,8 km/h).
Alvos: O painel é atingido em 11 pontos de impacto diferentes, mirando em locais considerados mais vulneráveis (centro da célula, bordas do painel, próximo à caixa de junção).
Critérios de Aprovação: Para passar no teste, o painel não pode apresentar danos visíveis (como vidro quebrado) e sua perda de potência máxima após os impactos deve ser inferior a 5%.
Nota: O teste de pressão com ventosas que você citou é o teste de Carga Mecânica (para vento e neve), que é diferente, mas igualmente importante para atestar a robustez do módulo.
RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA O INTEGRADOR
A Proteção é a Certificação: A melhor "proteção" que você pode oferecer ao seu cliente é a escolha de um painel de Tier 1, com selo do INMETRO e que ateste explicitamente a aprovação na IEC 61215. Desconfie de painéis sem certificação clara, pois eles não têm garantia de resistência.
O Protocolo Pós-Tempestade: O que fazer se o seu cliente ligar após uma forte chuva de granizo?
Passo 1 (Remoto): Verifique o sistema de monitoramento. Houve uma queda abrupta e permanente na geração após o dia da tempestade?
Passo 2 (Segurança): Peça ao cliente para fazer uma inspeção visual segura (do chão ou de uma janela), procurando por danos óbvios (vidro quebrado).
Passo 3 (Inspeção Técnica): Se houver suspeita de dano (seja visual ou pela queda de geração), agende uma visita técnica. Inspecione visualmente o telhado em busca de quebras.
Passo 4 (Diagnóstico Avançado): Se não houver dano visual, mas a geração caiu, o problema são microfissuras. O diagnóstico só pode ser confirmado com termografia (para identificar hot spots) ou, idealmente, um teste de eletroluminescência (EL).
Aconselhe sobre o Seguro: A garantia do fabricante cobre defeitos de fabricação, não eventos da natureza. Reforce para todos os seus clientes a importância de incluir o sistema fotovoltaico na apólice de seguro residencial ou empresarial. Em caso de um dano por granizo extremo, é o seguro que cobrirá a substituição dos módulos.