Por quase uma década, a tecnologia PERC (Passivated Emitter and Rear Cell) reinou absoluta no mercado fotovoltaico. Ela foi a grande responsável pela democratização da energia solar, permitindo um salto de eficiência que tornou os painéis mais potentes e financeiramente viáveis para milhões de pessoas. No entanto, como em toda evolução tecnológica, um reinado chega ao fim.
Hoje, o mercado vive uma transição inevitável. Enquanto o PERC se aproxima de seus limites teóricos de eficiência, duas novas tecnologias avançadas, baseadas em silício tipo-n, surgem como as herdeiras do trono: HJT (Heterojunction Technology) e TOPCon (Tunnel Oxide Passivated Contact).
Para os profissionais do setor, entender as diferenças e os benefícios de HJT e TOPCon não é mais uma questão de curiosidade, mas uma necessidade para projetar sistemas de alta performance e se manter na vanguarda do mercado.
O Legado do PERC: O Gigante que Popularizou o Sol
Antes de olharmos para o futuro, é justo honrar o passado. A tecnologia PERC foi uma inovação genial que adicionou uma camada dielétrica de passivação na parte traseira da célula de silício tipo-p. Essa camada funcionava como um espelho, reduzindo a perda de elétrons e refletindo a luz de volta para a célula, dando-lhe uma "segunda chance" de gerar energia. O resultado foi um aumento de eficiência que mudou a indústria.
Os Desafiantes ao Trono: Apresentando TOPCon e HJT
Ambas as tecnologias partem de uma base mais avançada, o silício tipo-n, que é mais puro e resistente à degradação. Mas a forma como atingem a alta eficiência é muito diferente.
1. TOPCon (Tunnel Oxide Passivated Contact) - A Rota Evolutiva
Pense no TOPCon como um "PERC 2.0". Ele é uma evolução natural da tecnologia anterior, o que representa sua maior vantagem estratégica.
Como Funciona: O TOPCon aprimora a passivação da célula tipo-n adicionando uma camada ultrafina de óxido de túnel e uma camada de polissilício dopado. Essa combinação cria uma "barreira" quase perfeita que minimiza drasticamente a recombinação (perda) de elétrons nos contatos metálicos da célula, um dos grandes "ladrões" de eficiência.
Vantagem de Mercado: Sua arquitetura permite que as gigantescas fábricas de PERC sejam adaptadas para produzir TOPCon com um investimento relativamente baixo. Isso está resultando em uma rápida expansão e em custos cada vez mais competitivos.
2. HJT (Heterojunction Technology) - A Rota Revolucionária
Se o TOPCon é uma evolução, o HJT é uma revolução no design da célula.
Como Funciona: A tecnologia HJT cria um "sanduíche" de materiais. Ela utiliza um núcleo de silício cristalino tipo-n de alta qualidade e o reveste, em ambos os lados, com finíssimas camadas de silício amorfo. A junção entre esses dois tipos diferentes de silício (a "heterojunção") resulta em um nível de passivação de superfície espetacular, praticamente eliminando os defeitos onde os elétrons poderiam se perder.
Vantagem Tecnológica: Sua estrutura simétrica e o processo de fabricação a baixas temperaturas resultam em células de altíssima qualidade com características de desempenho superiores, como veremos a seguir.
Por que HJT e TOPCon São Superiores ao PERC?
A superioridade dessas novas tecnologias não é apenas teórica. Ela se traduz em mais energia gerada (kWh) para o seu cliente ao longo da vida útil do sistema.
Eficiência Mais Alta: Tanto HJT quanto TOPCon já ultrapassaram o PERC em eficiência, tanto em laboratório quanto na produção em massa. Isso significa mais potência (Wp) em um mesmo painel, otimizando o uso de áreas limitadas de telhado.
Melhor Desempenho em Altas Temperaturas: Este é um ponto crucial para o Brasil. Módulos HJT e TOPCon possuem um coeficiente de temperatura inferior ao do PERC. Na prática, isso significa que eles perdem menos potência em dias quentes, continuando a gerar mais energia quando o sol está mais forte e o telhado mais quente. A tecnologia HJT, em particular, é a campeã nesta categoria.
Maior Bifacialidade: Por utilizarem silício tipo-n e terem estruturas otimizadas, ambos oferecem um fator de bifacialidade superior. Eles são mais eficientes em captar a luz refletida na parte traseira do módulo, o que aumenta significativamente a geração em usinas de solo e coberturas com superfícies claras.
Menor Degradação ao Longo do Tempo: Módulos PERC sofrem com a Degradação Induzida pela Luz (LID). Já os módulos HJT e TOPCon, por sua natureza, têm degradação LID praticamente nula. Isso se reflete nas garantias de performance: enquanto um bom painel PERC garante cerca de 85% de sua potência original após 25 anos, os painéis HJT e TOPCon já oferecem garantias de 88%, 90% ou mais após 30 anos.
Conclusão: O Fim da Era PERC é Iminente
Ainda veremos painéis PERC no mercado por algum tempo, graças à sua enorme capacidade produtiva instalada. Contudo, a transição tecnológica é um caminho sem volta. HJT e TOPCon não são apenas promessas; são o presente e o futuro da geração de energia solar, entregando mais eficiência, mais durabilidade e, consequentemente, um melhor retorno sobre o investimento.
Para os profissionais do setor, o recado é claro: é hora de estudar, entender e saber argumentar as vantagens dessas novas tecnologias. Especificar um sistema com HJT ou TOPCon é oferecer ao cliente o que há de mais avançado, consolidando sua reputação como um integrador que trabalha na vanguarda de um mercado em constante e fascinante evolução.