Para qualquer integrador fotovoltaico, a String Box sempre foi um componente elementar e sinônimo de segurança no lado de corrente contínua (CC) de um sistema. Sua função é clara: agregar os ramais dos painéis e prover proteção contra sobrecorrente e surtos atmosféricos. No entanto, a publicação da
ABNT NBR 17193 em fevereiro de 2025 introduziu um novo protagonista na arena da segurança: o
Dispositivo de Proteção contra Arco Elétrico (AFCI).
Com a função AFCI agora sendo obrigatória e, na maioria das vezes, integrada diretamente aos inversores modernos, surge uma questão técnica fundamental: qual é o novo papel da String Box? Ela se tornou redundante ou sua função foi redefinida?
O Cenário "Clássico": A Função Tradicional da String Box
Antes de analisar o impacto da nova norma, é crucial relembrar o papel tradicional da String Box em um sistema com inversor string:
Proteção contra Sobrecorrente: Utilizando fusíveis ou disjuntores CC, ela protege o inversor contra correntes de curto-circuito (Isc) que poderiam danificar suas entradas MPPT.
Proteção contra Surtos: Abriga os Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS) que drenam para o terra as sobretensões causadas por descargas atmosféricas, salvaguardando a eletrônica sensível do inversor.
Seccionamento: Fornece uma chave seccionadora que permite isolar fisicamente os painéis do inversor, garantindo a segurança de técnicos durante manutenções.
A Chegada da NBR 17193 e a Obrigatoriedade do AFCI
O foco principal da NBR 17193 é a segurança contra incêndios. Nesse contexto, a norma tornou obrigatória a proteção contra arco elétrico para circuitos de corrente contínua com tensão superior a 120V e corrente acima de 20A.
O que é o AFCI? É um dispositivo eletrônico inteligente projetado para detectar as assinaturas de um arco elétrico perigoso — as fagulhas geradas por uma conexão ruim, um cabo danificado ou um isolamento falho. Ao detectar esse padrão, ele interrompe o circuito antes que o arco possa gerar calor suficiente para iniciar um incêndio.
A grande mudança é que essa tecnologia, na maioria dos casos, já vem integrada aos novos modelos de inversores, que cumprem normas internacionais de segurança.
O Debate Central: O AFCI no Inversor Substitui a String Box?
A resposta curta e direta é: não. O AFCI não substitui a String Box porque eles desempenham funções de proteção distintas e complementares. Confundir seus papéis é um erro técnico perigoso.
AFCI vs. Disjuntor/Fusível: O AFCI detecta fagulhas (arcos em série ou paralelo), que podem ocorrer em correntes normais de operação. Já o disjuntor ou fusível na String Box atua em eventos de sobrecorrente (curto-circuito). Um arco pode iniciar um incêndio sem jamais atingir a corrente necessária para desarmar um disjuntor. Eles protegem contra falhas diferentes.
AFCI vs. DPS: O AFCI não oferece nenhuma proteção contra surtos de tensão causados por raios. Essa continua sendo a função exclusiva do DPS, que deve estar alojado na String Box, o mais próximo possível do inversor.
AFCI vs. Chave Seccionadora: O AFCI é uma proteção eletrônica interna. A chave seccionadora na String Box garante um seccionamento físico, visível e robusto, essencial para a segurança do trabalho em campo, conforme exigido pela norma NR-10.
Portanto, o AFCI integrado ao inversor adiciona uma nova e crucial camada de proteção focada na prevenção de incêndios, mas não elimina a necessidade das proteções clássicas contra surtos e sobrecorrentes, nem da capacidade de seccionamento seguro.
Como Fica o Projeto da String Box em 2025?
A String Box continua sendo um componente essencial, mas seu projeto e a filosofia de proteção do sistema agora são mais abrangentes.
A String Box Permanece Obrigatória: Para as funções de proteção contra surtos (DPS) e seccionamento seguro, sua presença continua indispensável para a conformidade com as normas NBR 16690 e NR-10.
O Foco se Expande: O trabalho do integrador agora não é apenas dimensionar a String Box, mas também verificar e garantir que o inversor escolhido para o projeto possui a funcionalidade AFCI em conformidade com a NBR 17193.
Potencial de Simplificação (com ressalvas): Alguns fabricantes de inversores podem argumentar que suas proteções eletrônicas internas contra sobrecorrente eliminam a necessidade de fusíveis ou disjuntores na String Box. Embora tecnicamente possível, a prática mais segura e largamente aceita é manter a proteção externa como uma camada de redundância e para garantir a conformidade visual e direta durante uma vistoria.
Conclusão: Mais Inteligência no Sistema, Não Menos Proteção na Caixa
A NBR 17193 e a introdução do AFCI não vieram para eliminar a String Box, mas para enriquecer o ecossistema de segurança do sistema fotovoltaico. A proteção CC agora é mais inteligente e atua em mais frentes.
Para o integrador, isso significa que a responsabilidade aumentou. É preciso dominar não só o dimensionamento dos componentes clássicos da String Box, mas também compreender e validar as novas funções de segurança eletrônica presentes no inversor. A String Box continua sendo o pilar da proteção contra ameaças externas e da segurança física, enquanto o inversor assume a vanguarda da proteção inteligente contra falhas internas que podem levar a incêndios. Juntos, eles formam a dupla de segurança que define os projetos fotovoltaicos em 2025.