Para um investidor ou desenvolvedor de uma usina solar de grande porte, a pergunta central não é apenas "quanto custa para construir?", mas sim "qual tecnologia me dará o melhor retorno financeiro ao longo dos 25 a 30 anos de vida do projeto?". Comparar apenas o preço inicial das estruturas é uma análise superficial que pode levar a decisões equivocadas.
A métrica mais importante utilizada pela indústria global para responder a essa pergunta é o LCOE (Levelized Cost of Energy), ou Custo Nivelado da Energia. É através dessa análise que podemos comparar de forma justa as duas principais opções para usinas de solo: a tradicional estrutura fixa e o dinâmico tracker solar.
1. O que é o LCOE e Por que Ele é a Métrica Mais Importante?
O LCOE representa o preço médio por unidade de energia (geralmente em R$/MWh ou US$/MWh) que a usina precisa receber ao longo de toda a sua vida útil para cobrir todos os seus custos, incluindo o investimento inicial, operação, manutenção e o retorno esperado para os investidores.
De forma simplificada, a lógica da fórmula é:
LCOE = (Custos Totais ao Longo da Vida) / (Energia Total Gerada ao Longo da Vida)
Um LCOE mais baixo é melhor. Significa que a sua usina produz energia a um custo menor, tornando o projeto mais competitivo, mais lucrativo e mais atraente para financiamento. É a métrica definitiva para comparar a viabilidade financeira de diferentes tecnologias.
2. Analisando os Custos (O Numerador da Equação)
Aqui, detalham vcos os custos de cada tecnologia ao longo do tempo.
CAPEX (Investimento Inicial):
Estrutura Fixa: Possui um CAPEX significativamente menor. As estruturas são mais simples, usam menos aço e exigem menos horas de mão de obra e equipamentos para a instalação. A engenharia civil para as fundações também é menos complexa.
Tracker Solar: Possui um CAPEX maior. Além do custo da estrutura metálica, há o custo adicional dos componentes de movimento: motores, atuadores, rolamentos e o sistema de controle eletrônico. A instalação é mais complexa e demorada, e as fundações precisam ser mais robustas.
OPEX (Custos de Operação e Manutenção):
Estrutura Fixa: OPEX muito baixo. A manutenção se limita à limpeza dos painéis e a inspeções visuais periódicas da estrutura.
Tracker Solar: OPEX maior. Por ter partes móveis, exige um plano de manutenção preditiva e preventiva, que inclui a lubrificação de componentes, verificação de motores, substituição de peças desgastadas e o consumo de energia dos próprios motores do tracker.
À primeira vista, a estrutura fixa parece uma vencedora clara no quesito custos. Mas esta é apenas metade da história.
3. Analisando a Geração de Energia (O Denominador da Equação)
É aqui que o jogo vira completamente a favor dos trackers.
Estrutura Fixa: Gera uma quantidade de energia (E_fixa) com uma curva de produção diária em formato de "sino", atingindo o pico de eficiência apenas ao meio-dia solar.
Tracker Solar: Ao seguir o sol do nascente ao poente, o tracker mantém os painéis em um ângulo ótimo por muito mais horas. Isso transforma a "curva de sino" em um "planalto" largo e alto. O resultado é um ganho de geração de energia total (kWh) que varia, dependendo da localidade, entre 15% e 25% a mais do que uma estrutura fixa de mesma potência.
Essa geração adicional (E_tracker) é o fator que tem o potencial de mais do que compensar os custos mais elevados da tecnologia.
4. A Batalha do LCOE: Um Estudo de Caso Simplificado
Vamos imaginar uma usina de 10 MWp em uma região de boa irradiação solar, como o interior de Minas Gerais ou o Nordeste brasileiro.
Link da Planilha:
A Lógica do Resultado:
Ao colocarmos esses valores na fórmula do LCOE, o que acontece? O aumento de 22% no denominador (Energia Total Gerada) ao longo de 25 anos é um fator multiplicativo poderoso. Ele dilui o aumento de 15% no CAPEX e os custos maiores de OPEX. Na grande maioria dos casos de usinas de solo em locais com boa irradiação e terreno adequado, o impacto massivo no aumento da geração supera os custos adicionais.
O resultado final é que o LCOE do sistema com tracker tende a ser menor do que o LCOE do sistema com estrutura fixa.
Conclusão: Para Grandes Usinas, a Energia Extra Compensa o Custo
A decisão entre uma estrutura fixa e um tracker solar é um clássico trade-off de engenharia financeira. A estrutura fixa oferece um menor desembolso inicial e simplicidade operacional, enquanto o tracker exige um investimento maior em troca de uma performance e receita significativamente superiores.
Para o mercado de geração centralizada e grandes projetos de geração distribuída, a conclusão da indústria é clara: a expressiva geração adicional de energia proporcionada pelos trackers de um eixo resulta em um projeto mais rentável e com um Custo Nivelado da Energia (LCOE) mais baixo. É por isso que, hoje, praticamente todas as grandes usinas fotovoltaicas construídas no Brasil e no mundo utilizam essa tecnologia para maximizar seu desempenho e seu retorno financeiro.